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Agricultura portuguesa enfrenta o desafio da sustentabilidade

2025-07-25
Agricultura portuguesa enfrenta o desafio da sustentabilidade

A agricultura em Portugal passou por uma transformação profunda nas últimas décadas, abandonando o modelo tradicional de subsistência para dar lugar a um setor mais especializado, com recurso à tecnologia  e voltado para os mercados globais. No entanto, apesar dos avanços em produtividade e inovação, o setor enfrenta hoje o duplo desafio da sustentabilidade ambiental e da renovação geracional.

Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), entre 1989 e 2019, a agricultura portuguesa perdeu quase um milhão de trabalhadores. A população ativa no setor passou de cerca de 1,5 milhões para 650 mil pessoas, representando hoje apenas 6% da população ativa, contra os 16% registados há três décadas. A maioria dos agricultores tem mais de 45 anos e apenas 4% têm menos de 40. Este envelhecimento agrava a vulnerabilidade de um setor que, apesar dos progressos, ainda luta pela sua renovação.

A área de Superfície Agrícola Utilizada (SAU) tem-se mantido relativamente estável ao longo do tempo, mas a sua composição alterou-se significativamente. Dados do INE indicam que a área de terras aráveis caiu de 59% para cerca de 26% da SAU em três décadas. Por outro lado, áreas de regadio aumentaram em cerca de 100 mil hectares, impulsionadas por investimentos como o projeto do Alqueva, no Alentejo, que permitiram a aposta em culturas permanentes de maior valor acrescentado, como vinha, olival, amêndoa e frutos vermelhos.

Esta transformação trouxe ganhos económicos importantes. O azeite, por exemplo, tornou-se um produto de excelência e altamente exportável, com a produção a quintuplicar nas últimas décadas. No entanto, em termos de peso na economia nacional, a agricultura representa hoje menos de 2% do Produto Interno Bruto (PIB), quando nos anos 80 rondava os 3,7%. Em 2021, segundo o INE, o setor agrícola gerou cerca de 3,5 mil milhões de euros em valor acrescentado bruto.

A sustentabilidade ambiental impõe-se agora como uma prioridade incontornável. A agricultura portuguesa enfrenta crescentes pressões relacionadas com a escassez de água, a degradação do solo e a perda de biodiversidade. Em resposta, agricultores e instituições têm vindo a adotar práticas mais sustentáveis, com recurso a tecnologias de precisão, sistemas de rega eficientes, uso responsável de fertilizantes e valorização de resíduos agrícolas.

O INE tem vindo a monitorizar a evolução da utilização de recursos naturais na agricultura, destacando o aumento da eficiência no uso da água e da energia em explorações que incorporam mais tecnologia. A digitalização do setor, ainda incipiente em muitas regiões, é vista como essencial para garantir a resiliência das explorações face às alterações climáticas e para melhorar a gestão dos recursos.

Iniciativas como o projeto europeu B‑RURAL procuram aproximar o mundo urbano da realidade rural e valorizar o contributo atual da agricultura portuguesa. Ao promover informação baseada em dados oficiais, o projeto reforça a ideia de que o setor evoluiu significativamente e que pode ser parte ativa da resposta nacional aos desafios ambientais e de segurança alimentar.

A trajetória da agricultura em Portugal revela uma evolução positiva, mas ainda incompleta. A sustentabilidade não é apenas uma exigência ambiental: é a base para garantir a continuidade de um setor vital para a economia, o território e a soberania alimentar. O futuro passará por políticas públicas mais integradas, investimento em inovação e, sobretudo, pela capacidade de atrair uma nova geração de agricultores preparados para liderar este novo paradigma.

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