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Circularity Gap Report 2025: Alerta global para a situação da Economia circular

2025-06-25
Circularity Gap Report 2025: Alerta global para a situação da Economia circular

O Circularity Gap Report 2025 apresenta um diagnóstico preocupante: a economia global continua a afastar-se dos princípios da circularidade, mesmo perante a crescente urgência de respeitar os limites ecológicos do planeta. O relatório, publicado pela Circle Economy, revela que apenas 6,9% dos materiais utilizados na economia global são reaproveitados — um recuo face aos 7,2% registados em anos anteriores.

Desde 2018, este relatório tem vindo a monitorizar a Circularity Metric, um indicador que mede a percentagem de materiais secundários (reciclados) em relação ao total consumido. Apesar dos apelos à transição ecológica, o crescimento da extração e uso de materiais virgens tem superado a recuperação de materiais, resultando numa economia cada vez mais linear e insustentável.

Segundo a análise, 100 mil milhões de toneladas de materiais foram extraídos recentemente a nível mundial, e este número poderá aumentar em mais 60% até 2060 se não forem implementadas mudanças estruturais urgentes. A consequência imediata é a intensificação da crise climática e da perda de biodiversidade.

O relatório identifica três categorias principais de fluxo de materiais:

  • Circulares: como materiais reciclados e biomassa carbono-neutra;
  • Lineares: incluindo combustíveis fósseis, biomassa não carbono-neutra e materiais não renováveis destinados ao aterro;
  • Potencialmente circulares: materiais adicionados ao stock (como edifícios ou infraestruturas), que poderão ser reciclados no futuro — ou não.

A publicação enfatiza que uma verdadeira economia circular deve ser "leve em recursos, exigindo uma reconfiguração profunda dos sistemas de produção e consumo, bem como estratégias que privilegiem a reutilização, o design circular e a eficiência material.

A bioeconomia é destacada como um elemento-chave, mas com várias lacunas de medição. Apesar de parte da biomassa ser considerada carbono-neutra, a sua extração em larga escala pode degradar solos, reduzir a biodiversidade e fomentar a desflorestação.

A utilização de combustíveis fósseis continua elevada. Em 2021, estes representaram 13,3% do total de materiais usados e foram responsáveis por 73% das emissões de gases com efeito de estufa. As subvenções diretas a estes combustíveis ultrapassaram os 1,4 biliões de dólares em 2021, contrariando os objetivos de descarbonização.

A acumulação de stocks físicos — como construção de edifícios e infraestruturas — é também um motor da insustentabilidade, com 38% dos materiais extraídos destinados a este fim. A urbanização crescente exigirá uma enorme expansão de stocks, sobretudo em países em desenvolvimento, o que torna urgente incorporar princípios circulares desde já.

O relatório denuncia a falta de metas globais vinculativas para o uso sustentável de recursos. A ausência de objetivos torna difícil orientar políticas eficazes, tanto ao nível nacional como internacional. A Circle Economy defende a criação de uma instituição internacional de governação dos recursos, capaz de estabelecer indicadores comuns, apoiar decisões políticas e garantir transparência no uso de materiais.

Para reverter o declínio da circularidade, o relatório apela à ação coordenada entre governos e empresas. Os Estados devem liderar com políticas ambiciosas, ajustando incentivos e eliminando subsídios prejudiciais. As empresas, por sua vez, são chamadas a integrar estratégias circulares nos seus modelos de negócio — como cadeias de valor fechadas, recuperação de materiais, produção local e design para reutilização — ganhando vantagem competitiva e resiliência face à escassez de recursos e instabilidade geopolítica.

O Circularity Gap Report 2025 serve como um "boletim de notas” global, com base em dados robustos e atualizados. A principal mensagem, contudo, é clara: não basta acompanhar os números — é imperativo agir com urgência e escala. Sem uma mudança profunda nas formas como produzimos, consumimos e gerimos os recursos, a economia continuará a operar fora dos limites seguros do planeta.
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